Tema apresentado no segundo dia do evento foi “Educação para uma vida sustentável”. Educadores falaram desde o aproveitamento da sabedoria indígena até a formação do “homem inacabado”, passando pelo papel do Estado na educação.
Para as conferências do segundo dia de atividade do Encontro Internacional de Educação (EIE), que a Secretaria de Educação de Osasco realizou entre os dias 23 e 25 de fevereiro, no Bloco Prata do Centro Universitário Fieo (Unifieo), estiveram presentes profissionais da área de educação de renome internacional. A equatoriana Rosa Maria Torres, o colombiano Abel Rodrigues e o franco-brasileiro Bernard Chalot foram os conferencistas que apresentaram suas opiniões e experiências a respeito do tema “Educação Para Uma Vida Sustentável” no Ginásio da Praça de Convivência no dia 24.
Ao lado dos conferencistas na mesa diretora da atividade, a secretária de educação de Osasco, Profa Mazé Favarão, abriu o trabalho conferindo o mérito do sucesso do encontro à dedicação e empenho de todo o pessoal de sua pasta. Ela falou ainda sobre a dissociação de “meio ambiente” e “sustentabilidade”, proposta pelo debate. “A sustentabilidade no contexto da educação é muito mais do que somente meio ambiente. Propomos que seja discutida aqui de qualidade de vida humana à erradicação da pobreza no mundo, já que a tecnologia que alcançamos é suficiente para eliminarmos este problema. O conhecimento e a técnica desenvolvidos pelo homem moderno nos permitiriam ter uma vida muito melhor. A questão é: e porque não?”, instigou a professora.
O bem viver indígena na educação – Iniciando os debates, a equatoriana Rosa Maria Torres, pedagoga e linguista, ativista social, diretora do Instituto Fronesis (Equador), e assessora de organismos e programas educativos em diversos países, expôs o paradigma indígena do “Buen vivir”. Em sua apresentação “Uma Educação Para o Bem Viver”, contrapôs o mundo moderno ocidental e sua alta tecnologia ao Sumak Kawsay, um princípio dos povos indígenas da região andina que significa vida em harmonia e equilíbrio entre homens e mulheres, entre as comunidades e, sobretudo, entre seres humanos e a natureza. “É uma proposta alternativa ao mundo convertido a um grande computador, idéia que predomina no século XXI, fazendo menos visível o papel do professor em sala de aula e a importância de sua constante capacitação”, disse.
Vinculando a educação ao Sumak Kawsay, Torres falou sobre a individualização imposta pela tecnologia, oposta ao conceito comunitário apresentado pelo mundo indígena. “A idéia de que cada criança tem que ter seu computador, que já está se expandindo no Brasil, é individualizadora. O Uruguai, que conseguiu fazer isso, é tido como modelo, mas este conceito não é aplicável facilmente. O Uruguai tem uma população altamente educada e conta com rede elétrica em todo o território. O Equador, por exemplo, não tem uma rede completa de energia elétrica, a internet tem uma penetração em apenas 26% da população, há 14 línguas indígenas diferentes entre nossas comunidades e os professores não estão qualificados para trabalhar com informática”, disse, defendendo ainda que “a internet é basicamente informação e não conhecimentos e saberes”.
Política educativa – Em sua conferência, o colombiano Abel Rodríguez Céspedes, pedagogo e ex-secretário de educação de Bogotá, falou sobre a política educativa implantada na capital colombiana entre os anos 2004 e 2009, que fez valer direitos garantidos na Constituição daquele país, que não eram aplicados de fato. Ele explicou que, em linhas gerais, a nova política implantada visou a materialização do direito à educação, o fortalecimento da educação pública, a melhora das condições materiais para o aprendizado, o fortalecimento da instituição escolar, o reconhecimento e participação da comunidade e a busca por uma gestão educativa humana, sustentável e eficaz. Em sua explanação, Céspedes defendeu que a qualidade de vida deve iniciar na escola, exemplificando que a oferta de merenda , assim como o acompanhamento à saúde do aluno, não são somente auxiliares para a aprendizagem, mas também garantem o direito a uma vida digna. “A educação precisa diminuir a pobreza, mas não no futuro, hoje”, sentenciou, defendendo a importância do papel da escola na diminuição da pobreza, na difusão da cidadania e no combate à discriminação. O colombiano observou ainda que a livre expressão e manifestação, assim como a liberdade para pesquisas, são direitos que devem ser garantidos dentro da escola, sendo assegurados pelo Estado.
Sustentabilidade x desenvolvimento
Considerando que vida sustentável é atender às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade de as gerações futuras também terem suas necessidades atendidas, ou seja, sem esgotar os recursos para a vida, o franco-brasileiro Bernard Chalot ressaltou em seu pronunciamento que vida sustentável não deve ser o oposto de desenvolvimento. “É uma vida onde não há somente a sobrevida, mas também a qualidade, o aproveitamento”, disse. Ele relacionou a necessidade do homem de absorver conhecimento e aprendizagem, comparando o ser humano aos animais, que segundo sua opinião “nascem perfeitos, enquanto o homem não”. Chalot explicou sua afirmativa citando que peixe nasce pronto para voar, pássaro para nadar, predadores para caçar e assim por diante, enquanto o homem tem necessidade de produzir trabalho para enfrentar suas necessidades. “Para eu me tornar ser humano, devo me apropriar da humanidade. Essa é a importância da educação: permitir que um ser inacabado se torne humano”, declarou, citando ainda o aproveitamento do trabalho e do conhecimento de gerações anteriores. “Todo ser humano pode mudar. Nunca é acabado. O homem é fundamentalmente educável, até mesmo o mais miserável e sem base familiar”, complementou.
Atividade cultural e painéis temáticos
Logo após a I Conferência, encerrada com as perguntas do público, os participantes assistiram a apresentação de Maracatu do Grupo Evolução Afro-Brasil na Praça de Convivência.
A tarde do segundo dia do EIE foi reservada aos painéis temáticos e apresentação de experiências. Foram 10 painéis espalhados pelas salas da universidade.
As atividades do dia 24 foram encerradas com a apresentação da peça “As Desventuras de Dona Escola”, no Teatro Municipal de Osasco.