“Não conhecemos na história nenhum momento em que uma nação indígena invadiu a terra de outro”. Essa frase dita pelo ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em abril de 2010, no Dia do Índio, foi lembrada pela presidente da Associação Indígena Pankararé de Osasco, Alaíde Pereira Xavier, no domingo, 15 de abril, em um dos dias da realização da VI Semana dos Povos Indígenas da cidade, que acontece entre os dias 13 e 22 de abril, com o objetivo de evidenciar o movimento de resgate cultural da etnia Pankararé no município.
A Semana em Osasco envolve a comunidade indígena Pankararé e outros povos da Grande São Paulo com direito a apresentações, seminários, exposições e comercialização de artesanatos indígenas.
Vale ressaltar que entre os dias 16 e 22 de abril, das 10 às 22 horas, serão realizadas atividades culturais de exposição e comercialização de produtos indígenas, fotos, vídeos e danças indígenas no Osasco Plaza Shopping, localizado na rua Tenente Avelar Pires de Azevedo, 81. E nos dias 16 a 20 de abril, o povo Pankararé percorrerá diversas unidades de ensino de Osasco desenvolvendo atividades de valorização das tradições culturais indígenas, como: Leitura e Releitura de Contos e lendas indígenas.
O evento intersecretarial conta com a parceria das Secretarias de Assistência e Promoção Social (SAPS); Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão (SDTI); Indústria, Comércio e Abastecimento (SICA); Cultura e Coordenadoria de Gênero e Raça, bem como do Centro Universitário FIEO, do CIMI (Conselho Indigenista Missionário de São Paulo), do Fórum Permanente Intersetorial Indígena de Osasco, do Osasco Plaza Shopping, do Makro, do Sams Club, da Casa do Norte e dos Empórios Pascoto e Tulli.
Evento em comemoração à ancestralidade
Um dos grandes momentos da Semana aconteceu no domingo, 15 de abril, na Casa de Angola, no Jardim Alvorada, onde um grupo de indígenas se reuniu para comemorar o orgulho da origem de seu povo por meio de apresentações, exposições de fotos, dança e canto Toré – um ritual de integração do povo indígena – e do Praiá, além de promover uma roda de samba Pankararé, oficinas com crianças, comercialização de produtos indígenas e alimentação típica da etnia.
O tema de destaque foi o povo Pankararé e a luta por seus direitos. Originárias do nordeste da Bahia, da região desértica do Raso da Catarina, as primeiras famílias da etnia chegaram a Osasco há cerca de 30 anos. Hoje, são 38 famílias, ou seja, cerca de 200 pessoas, vivendo principalmente nos bairros Helena Maria e Portal D´Oeste, e que se organizam para a conquista de um espaço para as suas práticas culturais. As primeiras pessoas migraram a Osasco e aos grandes centros urbanos no ano de 1955 em busca de trabalho. A comunidade Pankararé começou a se organizar em 2004 no município e existem membros do povo nos bairros da zona Leste de São Paulo e nas cidades de Embu das Artes, Santo Amaro e Guarulhos, entre outros. A estimativa é de que 450 indígenas Pankararés vivam na Grande São Paulo.
Alaíde Pereira Xavier, presidente da Associação Indígena Pankararé de Osasco, explicou o sentimento do índio que hoje vive nas metrópoles. “O evento é muito importante para nós, porque fortalecemos nossa cultura. O apoio da Prefeitura de Osasco é fundamental na valorização das raízes indígenas. Antes estávamos isolados e hoje formamos uma grande tribo, um pouco mais unida e com os antigos laços voltando a ressurgir. É uma pena que muitos não fazem cadastro na FUNAI e nas Prefeituras. Nas grandes cidades, muitos de nós, índios, têm vergonha de dizer que são descendentes indígenas. O verdadeiro índio não se esconde, não tem medo e luta por seus ideais”, conclamou a líder.
Durante o evento, a secretária de Assistência e Promoção Social de Osasco, Patrícia Dândalo; a coordenadora de Gênero e Raça, Sônia Rainho; o diretor da Secretaria de Indústria, Comércio e Abastecimento de Osasco, José Monção e a coordenadora do Programa Osasco Solidária, Magali Honório, destacaram a importância da Semana para a administração pública. Eles também fizeram questão de salientar que o governo está sempre aberto ao diálogo e preocupado em resgatar, preservar e garantir os valores culturais indígenas na cidade.
1, 2, 3 indiozinhos…
“Num pequeno bote, mas sem deixar ele virar”, disseram as pequenas Raiana (8 anos), Ana Carolina (9 anos) e Laura Moreira (10 anos), duas delas irmãs e uma prima, todas indiazinhas descendentes do povo Pankararé, e declaradamente orgulhosas das raízes. Dançando o Toré, elas procuraram, às suas maneiras e olhares, explicar o espírito indígena. “Osasco é pequena se a gente pensar no Brasil, mas tem o povo índio forte e que não vai deixar o bote virar. Viemos dançar e mostrar o que o índio tem de melhor. A gente precisa mostrar para o homem branco que todos precisam se dar bem, mesmo que no passado a gente tenha sido mal tratado. Na tribo, todos caçam e se ajudam. Já na cidade o homem e a mulher também devem se ajudar e não empurrar as coisas uns para os outros”, opinou a pequena Ana Carolina sobre a divisão igualitária do trabalho doméstico.
“Nenhuma criança que tem pai índio deve ter vergonha de ser índio. A gente tem dança bonita, roupa colorida e conhece muita coisa de planta, por exemplo, o que ela traz de bom e de ruim para gente. Desde pequena a gente cresce sendo inteligente”, disse Laura Moreira, com um belo sorriso, acompanhada do primo Arthur (11 anos), que fitava calado a reportagem com o olhar sereno e desconfiado de um nobre cacique.
“As pinturas dos Pankararés nos corpos são importantes para identificar nosso povo. Antes a gente guerreava muito com outras tribos e com os homens brancos, mas hoje a gente briga para ter nossos direitos reconhecidos”, comentou a jovem Raiana, de 9 anos, com uma desenvoltura política e espontaneidade impressionante.